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Que História nós (não) contamos? Usos e desusos do RPG no ensino de História (1991-2020) - Metodologia, Fontes e Bibliografia


Finalizando esta série de postagens, eu explico como seria a metodologia de trabalho neste projeto e elenco as fontes e a bibliografia utilizada na pesquisa, ela inclui, obviamente, muitos livros de RPG e artigos acadêmicos sobre a utilização do jogo em sala de aula.

Como esse projeto ficou apenas no campo das ideias e sua metodologia nunca foi aplicada, eu passarei nas próximas postagens a analisar alguns livros de RPG com temática histórica, apontando para algumas direções que podemos tomar na sua utilização em mesa, e não em sala de aula.

Farei estas postagens não com o intuito de desmerecer o livro, mas sim para que os jogadores possam de certa forma, ampliar seus horizontes e melhor utilizar a “pilhagem narrativa” para compor suas aventuras, crônicas e narrativas.

O primeiro destes livros será aquele que me levou a cursar História e também foi o meu primeiro livro de RPG: Vampiro: A Idade das Trevas

Metodologia

            A proposta deste projeto era avaliar algumas publicações acadêmicas que tratam do tema RPG e ensino de História e também os RPG comerciais de temática histórica produzidos em mais de vinte anos (1991 – 2017) período esse em que se consolidou o campo do “RPG Pedagógico” e mostrar, por meio destas fontes, os principais problemas do uso do jogo para o ensino de História, apontando também os prováveis meios de superação destes problemas, vale dizer aqui que não utilizaremos apenas RPG´s escritos no Brasil, pois alguns jogos americanos e europeus também tratam de temas históricos e até mesmo sobre a Amazônia.

            Entretanto, inicialmente passaremos a análise do RPG enquanto jogo, buscando vê-lo em sua origem mais remota para entender os seus propósitos como um produto de uma cultura letrada que segue uma lógica de mercado muito própria, até chegar a sua possível utilização como método de ensino. Assim, utilizaremos os conceitos de jogo enquanto cultura proposto por Johann Huizinga em sua obra “Homo Ludens”, as categorias e características dos jogos feitas por Roger Caillois no livro “Os Jogos e os Homens”, passando pelos conceitos de leitura, livro e cultura letrada de Robert Darnton, Roger Chartier e Carlo Ginzburg e as ideias em relação ao imaginário e aos heróis de Jacques Le Goff, por fim, trataremos também da obras de Andréa Pavão e Sônia Mota Rodrigues, referenciadas em muitos trabalhos como as primeiras a indicar os caminhos para o uso do RPG em sala de aula.

            Faremos também entrevistas com jogadores e autores de jogos de RPG, buscando entender suas ideias acerca dos usos e desusos do RPG no ensino de História, destacamos que serão feitas entrevistas tanto com aqueles que apóiam o uso RPG na escola quanto com aqueles que apenas jogam o RPG como entretenimento, buscando entender suas visões acerca do jogo e de seus “novos” usos, além de saber se um jogo de RPG com temática amazônica seria possível de uso do ponto de vista dos jogadores, com vias de criação de uma história regular e passível de diversão da mesma forma dos RPG´s comerciais e consagrados pelo grande público.

            Por fim, passaremos a delinear um possível RPG de História da Amazônia, sua narrativa, sistema de regras e prováveis temas que serão utilizados, tendo como parâmetros diversos artigos de criação de um RPG proposto pelo Design de Jogos Ron Edwards[1] e pelo conceito de pilhagens narrativas proposto por Sônia Mota Rodrigues. Destacando a ideia de não seu um jogo para “ensinar” História, e sim pra fazer com que alunos da rede pública de ensino e jogadores de RPG em geral tenham contato com o conhecimento que é produzido em nossa região e que, por muitas vezes, fica restrita a comunidade acadêmica.

 

Fontes Históricas

            Este projeto utiliza como fontes diversos trabalhos acadêmicos que tem como temática o RPG e o ensino de História e o uso do RPG como “ferramenta” pedagógica e que estão inseridos na temporalidade deste projeto iniciada em 1991 com o lançamento do primeiro livro com temática histórica brasileira, O Desafio dos Bandeirantes, além destes também serão usados como fontes os livros de RPG comerciais com temas históricos e produzidos com o intuito de sua utilização pelo professor em sala de aula, como também aqueles sem o viés pedagógico mais ainda tendo a História como foco de narrativa. Os trabalhos acadêmicos e os livros estão descritos abaixo:

            CARDOSO, Eli Teresa. Motivação escolar e o lúdico: o jogo RPG como estratégia pedagógica para o ensino de História. Dissertação. Universidade Estadual de Campinas. Campinas/SP, 2008.

            IONTA, Marilda. “Aprender e ensinar História: os jogos de RPG na sala de aula”. In: Revista Ponto de Vista – Vol. 6, p. 23-29, 2006.

            PEREIRA, Priscilla Emmanuelle Formiga. RPG e História: o Descobrimento do Brasil. Dissertação. João Pessoa: [s.n.], 2010.

            GRANDO, Anita & TAROUCO, Liane. “O Uso de Jogos Educacionais do tipo RPG na Educação”. In: Novas Tecnologias na Educação. Vol. 6, Nº 2, dezembro, 2008.

            CORRÊA, André Luís da Costa. Rolando dados, criando histórias, aprendendo História – o uso do RPG como instrumento de iniciação científica no ensino de História. Dissertação. UFRGS. Porto Alegre, 2017.

            LÔBO, Isamarc Gonçalves. “RPG e História: Experiências e Projetos”. In: Anais do XXII Simpósio Nacional de História – ANPUH. João Pessoa, 2003.

            XAVIER, Raphael. “RPG e o ensino de História: Diálogos e Perspectivas”. In: Revista Encontros de Vista – Sétima edição, p. 86-93, 2007.

            CUPERTINO, Edson Ribeiro. Vamos jogar RPG? Diálogos com a literatura, o leitor e a autoria. Dissertação. USP. São Paulo, 2008.

            VALÉRIO, Alexandre dos Santos. “Ensino e Imaginação: O uso do RPG como Ferramenta Didática no ensino de História”. In: Anais da I Jornada de Didática – O Ensino Como Foco – I Fórum de Professores de Didática do Estado do Paraná, p. 178-188, 2010.

            SOARES, Ingrid Krause. Entre a Interpretação e a Rolagem de dados: o Uso do RPG para o Ensino de História. Monografia. UNESC. Criciúma, 2013.

            SOUSA, Ítalo Pereira de. O ser professor e o ensino de História com novas linguagens: o uso do RPG em sala de aula. Monografia. UEPB. Campina Grande, 2016.

            ROCHA, Renan Antonio da. Jornada entre a imaginação e a interpretação: o uso e a prática do RPG no ensino de História. Monografia. UNESC. Criciúma, 2014.

            MIBIELLI, Roberto. “A prática do RPG como estímulo à leitura literária e à reapropriação de lendas e mitos para culturas tradicionais”. In: Anais do XI Congresso Internacional da ABRALIC. USP. São Paulo, 2008.

SCHMIT, Wagner Luiz. “RPG e Vygotsky: perspectivas para a prática pedagógica”. In: Anais do X Congresso Nacional de Educação. PUC-PR. Curitiba, p. 7076-7089, 2011.

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CARDOSO, Bianca e Silva & MATTA, Alfredo Eurico Rodrigues. “Jogo RPG (Role Playing Game) Digital: Uma Proposta Pedagógica para o Ensino de História”. In: Anais do VI encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária. Salvador/BA, 2014.

TEIXEIRA, Pedro Emanuel de Medeiros; SILVA, Isayane Karinne de Oliveira & MORAIS, Marçal José de Oliveira. “Jogos de RPG como auxílio no ensino de História”. In: Anais do VII Congresso Norte-Nordeste de Pesquisa e Inovação. Palmas/TO, 2012.

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RICON, Luiz Eduardo. Mini GURPS: O Quilombo dos Palmares. São Paulo: Devir Livraria, 1999.

RICON, Luiz Eduardo. Mini GURPS: Entradas e Bandeiras. São Paulo: Devir Livraria, 1999.

RICON, Luiz Eduardo. Mini GURPS: As Cruzadas. São Paulo: Devir Livraria, 1999.

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[1] www.theforge.com

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