Antioquia
Os Cruzados sitiaram a imensa cidade de Antioquia a
caminho de Jerusalém. Instalaram-se em volta da cidade e logo começaram a
sofrer falta de alimentos.
Exércitos turcos ainda viriam a atacá-los sitiá-los em acontecimentos dos mais
dramáticos da I Cruzada.
Aconteceu em Antioquia que os grãos e os alimentos começaram a ser
excessivamente caros antes da Natividade do Senhor. Não nos atrevemos a
ir para fora; não poderíamos encontrar absolutamente nada para comer dentro da
terra dos Cristãos, e ninguém se atrevia a entrar na terra dos Sarracenos sem
um grande exército.
Na última convocação de uma assembleia, os senhores decidiram
como eles poderiam cuidar de tantas pessoas.
Vista de Antioquia, hoje.
Concluíram eles no conselho que uma parte da nossa força deveria sair
diligentemente para arrecadar alimentos e guardar o Exército em toda parte,
enquanto a outra parte deveria permanecer fiel na vigia do inimigo.
Finalmente, Boemundo disse, “Senhores e ilustríssimos cavaleiros, se assim o
desejarem, e se parecer digno e bom para Vós, serei eu que partirei com o Conde
de Flandres, nesta busca”.
Assim, quando as festividades da Natividade haviam sido gloriosamente
celebradas na segunda-feira, segundo dia da semana, eles e mais de vinte mil
cavaleiros e soldados de infantaria partiram e entraram na terra dos
Sarracenos, seguros e ilesos.
Foram reunidos, de fato, muitos Turcos, Árabes e
Sarracenos de Jerusalém, Damasco, Aleppo, e de outras regiões, que estavam a
caminho para reforçar Antioquia.
Boemundo de Tarento entra em Antioquia, junho 1098
Então, quando souberam que um exército Cristão
estava sendo levado para sua terra, prepararam-se para a batalha contra os
Cristãos, e logo ao amanhecer chegaram ao local onde nosso povo estava reunido.
Os bárbaros se dividiram e formaram duas linhas de
batalha, uma na frente e uma atrás, procurando cercar-nos de todos os lados.
O digno Conde de Flandres, portanto, cingido por
todos os lados com a armadura da Fé verdadeira e o sinal da cruz, que ele usava
fielmente todos os dias, foi de encontro a eles, juntamente com Boemundo, e
nossos homens precipitaram-se todos juntos sobre eles.
Eles imediatamente puseram-se em fuga e às pressas deram
as costas; muitos deles foram mortos, e nossos homens levaram seus cavalos e
outros despojos.
Mas outros, que tinham permanecido vivos, fugiram
rapidamente e partiram para a ira da perdição.
Nós, porém, voltando com grande alegria, louvamos
a Deus e glorificamos a Deus Trino em Um, que vive e reina agora e para sempre,
amém.
Finalmente, os turcos, na cidade de Antioquia,
inimigos de Deus e do Cristianismo Santo, crendo que o Senhor Boemundo e o
Conde de Flandres não estavam no cerco, saíram da cidade e ousadamente
avançaram para dar batalha contra nós.
Sabendo que os cavaleiros mais valentes estavam
fora, eles armaram emboscada para nós em todos os lugares, sobretudo daquele
lado onde o cerco estava se estendendo.
Uma quarta-feira, descobriram que podiam resistir
e nos atacar. Os mais iníquos bárbaros saíram cautelosamente e, caindo
violentamente em cima de nós, mataram muitos dos nossos cavaleiros e soldados
que estavam fora de sua guarda.
Até mesmo o Bispo de Puy, nesse dia amargo, perdeu
seu senescal, que estava portando seu estandarte. Não fosse um córrego que nos separavam,
eles teriam nos atacado mais vezes e causado grande dano ao nosso povo.
Nessa
altura, o célebre Boemundo, avançando com seu exército da terra dos Sarracenos,
chegou à montanha de Tancredo, desejando saber se por acaso encontraria
qualquer coisa para levar consigo, porque eles estavam saqueando toda a região.
Alguns, na verdade, encontraram algo, mas outros foram embora de mãos vazias.
Então o sábio Boemundo, censurou-lhes, dizendo:
‒ “Oh, povo infeliz e miserável! Oh, o mais vil de todos os Cristãos! Por que
quereis ir embora tão rapidamente? Apenas parai, parai até que estejamos todos
reunidos, e não vagueis como ovelhas sem pastor. Além disso, se o inimigo
encontrá-los vagando, matar-vos-ão, pois eles estão vigiando noite e dia para
encontrá-los sozinhos, ou errando em grupos sem um líder, e eles empenham-se
diariamente para matá-los e levá-los cativos”.
Quando concluiu suas palavras, ele voltou para seu acampamento com seus homens,
mais de mãos vazias que cheias.
Fonte: August C. Krey, A Primeira Cruzada: relatos
de testemunhas e participantes, (Princeton: 1921), 132-34.
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