Não posso
enumerar todas as coisas que fizemos antes da cidade ser tomada, porque não há
absolutamente ninguém nestas regiões, quer seja clérigo ou leigo, que possa
escrever ou relatar como as coisas aconteceram. Entretanto, vou dizer um pouco.
Havia um
certo Emir da raça dos Turcos, cujo nome era Pirus [Firuz], que tornou-se
grande amigo de Boemundo.
Através de
um intercâmbio de mensageiros, Boemundo muitas vezes pressionava este homem
para recebê-lo dentro da cidade da forma mais amistosa possível e, depois de
prometer a ele o Cristianismo mais abertamente, mandou dizer que o faria rico,
com muitas honras. Pirus rendeu-se a essas palavras e promessas, dizendo: “Guardo
três torres, e prometo entregá-las gratuitamente a ele, e a qualquer hora que
ele deseje eu o receberei dentro delas”.
Assim,
Boemundo estava seguro de que entraria na cidade, e, encantado, com mente
serena e semblante alegre, dirigiu-se a todos os líderes, com palavras alegres,
tais como:
‒ “Homens, ilustríssimos cavaleiros, vêde como todos nós, em maior ou menor grau, estamos em extrema pobreza e miséria, e como ignoramos totalmente de que lado nos sairemos melhor. Portanto, se vos parecer bom e honroso, que um de nós se coloque à frente do resto, e se ele puder obter ou planejar (a captura) da cidade por qualquer plano ou esquema, por si ou com a ajuda de outros, vamos a uma só voz conceder-lhe a cidade de presente”.
‒ “Homens, ilustríssimos cavaleiros, vêde como todos nós, em maior ou menor grau, estamos em extrema pobreza e miséria, e como ignoramos totalmente de que lado nos sairemos melhor. Portanto, se vos parecer bom e honroso, que um de nós se coloque à frente do resto, e se ele puder obter ou planejar (a captura) da cidade por qualquer plano ou esquema, por si ou com a ajuda de outros, vamos a uma só voz conceder-lhe a cidade de presente”.
Eles
terminantemente recusaram e repeliram (a sugestão), dizendo: “Esta cidade não
deve ser dada a ninguém, mas vamos possuí-la equitativamente, já que tivemos
esforço igual, então tenhamos recompensa idêntica com ela”. Boemundo, ao ouvir estas
palavras, riu um pouco para si mesmo e retirou-se imediatamente. Não muito tempo depois ouvimos
mensagens relativas (à aproximação de) um exército de inimigos nossos: Turcos,
Publicanos, Agulanos, Azimitas, e muitas outras nações gentias que não sei como
enumerar ou nomear.
Imediatamente
todos os nossos chefes se reuniram, e realizaram um conselho, dizendo:
‒ “Se Boemundo pode tomar a cidade, por si próprio ou com a ajuda de outros, vamos dá-la a ele livremente e com o assentimento de todos, com a condição de que se o Imperador vier em nosso auxílio e desejar executar todo o acordo, como jurou e prometeu, vamos, por direito, devolvê-la a ele. Mas se ele não fizer isso, que Boemundo a mantenha sob seu poder”.
‒ “Se Boemundo pode tomar a cidade, por si próprio ou com a ajuda de outros, vamos dá-la a ele livremente e com o assentimento de todos, com a condição de que se o Imperador vier em nosso auxílio e desejar executar todo o acordo, como jurou e prometeu, vamos, por direito, devolvê-la a ele. Mas se ele não fizer isso, que Boemundo a mantenha sob seu poder”.
Imediatamente,
portanto, Boemundo começou humildemente a suplicar a seu amigo, diariamente,
oferecendo, do modo mais humilde, as maiores e mais doces promessas desta
forma:
‒ “Vede,
verdadeiramente temos agora um momento adequado para realizar todo o bem que
desejamos; portanto, agora, Pirus, meu amigo, ajude-me”.
Enormemente
satisfeito com a mensagem, replicou que o ajudaria de todas as maneiras, como
ele deveria fazer. Assim, ao cair da noite, ele cautelosamente enviou seu filho
até Boemundo como garantia de que ele pudesse estar absolutamente certo de sua
entrada na cidade.
Mandou também um recado para ele desta maneira:
‒ “Amanhã,
soe as trombetas para que o exército Franco adiante-se, fingindo que saquearão
a terra dos Sarracenos, e depois voltem rapidamente pela montanha, à direita.
De fato, com a mente alerta aguardarei esses exércitos, e eu vou levá-los para
as torres que tenho em meu poder e encargo”.
Então
Boemundo mandou chamar um servo seu de nome Malacorona, e ordenou-lhe que, como
arauto, admoestasse fielmente a maioria dos Francos para se prepararem para ir
à terra dos Sarracenos.
E assim foi
feito. Nisso, Boemundo confiou seu plano ao Duque Godofredo e ao Conde de
Flandres, também ao Conde de St. Gilles e ao Bispo de Puy, dizendo:
‒ “A graça
de Deus favorecendo, esta noite Antioquia nos será entregue”.
Todas estas
questões foram finalmente acertadas; os cavaleiros se colocariam nos planaltos
e os soldados no pé da montanha. A
noite toda eles cavalgaram e marcharam até o amanhecer, e depois começaram a se
aproximar das torres que essa pessoa (Pirus) vigilantemente guardava.
Boemundo logo
desmontou e deu ordens para o resto, dizendo:
‒ “Ide, com
a mente segura e de feliz acordo, e subi pela escada para dentro de Antioquia
que, se Deus quiser, teremos de imediato em nosso poder”.
Subiram a
escada, que já tinha sido colocada e firmemente amarrada às estruturas da
muralha da cidade. Cerca de sessenta dos nossos homens subiram e
distribuíram-se entre as torres que aquele homem estava vigiando. Pirus, ao ver que tão poucos
dos nossos homens haviam subido, começou a tremer de medo por si próprio e por
nossos homens, temendo que caíssem nas mãos dos Turcos.
E ele
disse, “Micro Francos echome ‒ Há poucos Francos aqui! Onde está o ferocíssimo
Boemundo, aquele invicto cavaleiro?”
Enquanto
isso, um servo Longobardo desceu novamente, e correu o mais rápido (possível)
até Boemundo, dizendo:
‒ “Por que
estais aqui, ilustre homem? Por que vieste para cá? Eis que já tomamos três
torres!”
Boemundo adiantou-se com o resto, e todos foram alegres até a escada. Assim, quando aqueles que estavam nas torres viram isso, começaram a gritar com vozes alegres:
‒ “Deus o quer!”
Boemundo adiantou-se com o resto, e todos foram alegres até a escada. Assim, quando aqueles que estavam nas torres viram isso, começaram a gritar com vozes alegres:
‒ “Deus o quer!”
Começamos a
igualmente a gritar, agora os homens começaram a subir lá em cima de modo
espantoso. Então, eles chegaram ao topo e correram apressadamente para as
outras torres. Aqueles com os quais
eles se depararam ali foram logo postos à morte; e até mesmo um irmão de Pirus
foi morto. Entretanto, a
escada pela qual tínhamos subido quebrou acidentalmente, baixando então, entre
nós, o maior desânimo e tristeza.
Contudo, embora
a escada estivesse quebrada, havia ainda perto de nós um portão que havia sido
fechado do lado esquerdo e, por ser noite, tinha permanecido despercebido por
algumas pessoas.
Mas, pelo
tato e indagando sobre ele, nós o encontramos, e todos correram para ele e,
depois de tê-lo arrombado, entramos por ele.
Então, o barulho de uma multidão incontável ressoou por toda a cidade.
Boemundo não deu nenhum
descanso a seus homens, mas ordenou que seu estandarte fosse levado até a
frente do castelo em uma colina. Na verdade, todos juntos gritavam na cidade.
Além disso, quando ao amanhecer, aqueles que se encontravam nas tendas
ouviram o violentíssimo brado ressoando pela cidade, saíram correndo às pressas
e viram o estandarte de Boemundo em cima do monte, e com rapidez todos correram
precipitadamente e entraram na cidade.
Eles mataram os Turcos e Sarracenos que lá encontraram, exceto aqueles
que tinham fugido para a cidadela. Outros Turcos saíram pelas portas e,
fugindo, escaparam vivos.
Mas Cassiano, seu senhor, temendo enormemente a raça dos Francos, fugiu com os muitos outros que com ele estavam e entraram na terra de Tancredo, não muito longe da cidade. Seus cavalos, entretanto, estavam exauridos, e, refugiando-se em uma quinta, arrojaram-se em uma casa.
Mas Cassiano, seu senhor, temendo enormemente a raça dos Francos, fugiu com os muitos outros que com ele estavam e entraram na terra de Tancredo, não muito longe da cidade. Seus cavalos, entretanto, estavam exauridos, e, refugiando-se em uma quinta, arrojaram-se em uma casa.
Os habitantes da montanha, Sírios e Armênios, ao reconhecer-lhe
(Cassiano), logo o agarraram, cortaram sua cabeça, e levaram-na à presença de
Boemundo, para que pudessem ganhar sua liberdade.
Eles também venderam sua espada da cintura e bainha por sessenta
besantes. Tudo isso ocorreu no terceiro dia do mês de Junho, no quinto dia
da semana, no terceiro dia antes das Nonas de junho.
Todas as praças da cidade já estavam repletas de cadáveres, de modo que
ninguém podia suportá-la devido o mau odor. Só se conseguia andar nas ruas da
cidade passando por cima dos corpos dos mortos.
Fonte: August C. Krey, A Primeira Cruzada: relatos
das testemunhas e dos participantes, (Princeton: 1921), 151-53.
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