Algum tempo antes, Cassiano, Emir
de Antioquia, tinha enviado uma mensagem para Curbara, chefe do Sultão da
Pérsia, enquanto ele ainda estava na Chorosan, para vir ajudá-lo enquanto ainda
havia tempo, porque um poderosíssimo exército de Francos tinha sitiado
Antioquia.
Se o Emir o ajudasse, ele
(Cassiano) lhe daria Antioquia, ou o enriqueceria com um dom muito grande.
Como Curbara tinha, há muito
tempo, reunido um enorme exército de Turcos, e tinha recebido permissão do
Califa, o seu papa, para matar os cristãos, ele começou uma longa marcha para
Antioquia.
O Emir de Jerusalém veio em seu
auxílio com um exército, e o Rei de Damasco chegou lá com um exército muito
grande.
Na verdade, Curbara reuniu também
incontáveis povos pagãos: Turcos, Árabes, Sarracenos, Publicanos, Azimitas,
Curdos, Persas, Agulanos e inúmeros outros povos.
Os Agulanos eram três mil, e não
temiam lanças, setas, nem qualquer tipo de armas, porque eles e todos os seus
cavalos eram equipados com ferro ao redor, e em batalha eles se recusavam a
carregar qualquer armamento, exceto espadas. Todos estes vieram ao cerco de Antioquia para dispersar o agrupamento de Francos.
E quando se aproximaram da
cidade, Sensadolus, filho de Cassiano, Emir de Antioquia, foi ao encontro
deles, e em lágrimas correu logo para Curbara, rogando-lhe com estas palavras:
‒ “Chefe invencível, eu, um
pleiteante, suplico-Vos que me ajudeis, agora que os Francos estão me sitiando
de todos os lados na cidade de Antioquia; agora que têm a cidade sob sua
influência e procuram afastar-nos da região da Romênia, ou mesmo ainda da Síria
e de Chorosan. Eles têm feito tudo o que queriam, mataram meu pai, agora nada
mais resta a não ser matarem-me, e a Vós, e todos os outros de nossa raça. Há
muito tempo espero sua ajuda para socorrer-me este perigo”.
Respondeu-lhe Curbara:
‒ “Se quereis que de boa vontade
eu entre em seu serviço, e para ajudá-lo fielmente neste perigo, ponha aquela
cidade em minhas mãos, e depois vêde como eu o servirei e protegerei com os
meus homens”.
Sensadolus respondeu:
‒ “Se puderes matar todos os
Francos e dar-me suas cabeças, dar-te-ei a cidade, e prestar-te-ei honras e
guardarei a cidade sob teu senhorio”.
A isto Curbara respondeu: “Isso
não vai dar certo; entregue-me a cidade”. E, querendo ou não, ele lhe entregou
a cidade.
Mas no terceiro dia depois que
tínhamos entrado na cidade, a guarda avançada de Curbara correu na frente da
cidade; seu exército, no entanto, acampou no Portão de Ferro.
Tomaram a fortaleza de assalto e mataram todos os seus defensores, que encontramos atados com correntes de ferro, depois que a maior batalha havia sido travada.
No dia seguinte, o exército dos pagãos moveu-se, e, aproximando-se da cidade, acampou entre os dois rios e ficou lá por dois dias.
Tomaram a fortaleza de assalto e mataram todos os seus defensores, que encontramos atados com correntes de ferro, depois que a maior batalha havia sido travada.
No dia seguinte, o exército dos pagãos moveu-se, e, aproximando-se da cidade, acampou entre os dois rios e ficou lá por dois dias.
Depois de terem retomado a
fortaleza, Curbara convocou um de seus emires que ele sabia ser veraz, gentil e
sereno e lhe disse:
‒ “Quero que tomeis sob vosso
encargo a guarda desta fortaleza em fidelidade a mim, porque há muito tempo sei
que sois fidelíssimo; portanto, peço-vos guardar este castelo com o maior
cuidado, pois, como sei que sois prudentíssimo em vossas ações, não posso
encontrar aqui ninguém que seja mais veraz e corajoso”.
A ele, o Emir respondeu: ‒
“Nunca recusaria obedecê-lo em tal serviço, mas antes de que me persuadais
apelando, darei meu consentimento, com a condição de que, se os Francos
expulsarem seus homens do mortal campo de batalha e conquistarem, imediatamente
entregarei esta fortaleza a eles”.
Curbara disse-lhe:
‒ “Reconhecendo sua honradez e
sabedoria, consinto plenamente a qualquer bem que deseje fazer”. E então
Curbara retornou ao seu exército.
Imediatamente os Turcos,
debicando dos ajuntamentos de Francos, trouxeram à presença de Curbara uma
certa espada muito miserável coberta de ferrugem, um arco de madeira muito
desgastado e um lança extremamente inútil que tinham acabado de tomar de peregrinos
pobres, e disseram:
‒ “Eis as armas que os Francos
levam para travar batalha contra nós!”
Então Curbara começou a rir,
dizendo diante de todos que estavam naquele encontro:
‒ “Estas são as guerreiras e brilhantes armas que os cristãos trouxeram contra nós na Ásia, com as quais eles esperam e contam expulsar-nos para além dos limites da Chorosan e apagar nossos nomes para além dos rios das Amazônas, eles que tocaram nossos parentes da Romania e da cidade real de Antioquia, que é a famosa capital de toda a Síria!”
‒ “Estas são as guerreiras e brilhantes armas que os cristãos trouxeram contra nós na Ásia, com as quais eles esperam e contam expulsar-nos para além dos limites da Chorosan e apagar nossos nomes para além dos rios das Amazônas, eles que tocaram nossos parentes da Romania e da cidade real de Antioquia, que é a famosa capital de toda a Síria!”
Em seguida, convocou seu escriba e disse:
‒ “Escreva rapidamente diversos
documentos que devem ser lidos em Chorosan.
“Para o califa, o nosso Papa, e para nosso Rei, o Senhor Sultão, o mais valente dos cavaleiros, e para todos os mais ilustres cavaleiros de Chorosan; saudações e homenagem sem medida.
“Deixe-mo-los alegrarem-se e deleitarem-se em alegre concórdia e satisfazerem seus apetites; deixe-mo-los comandarem e darem a conhecer a toda aquela região que as pessoas se entregam inteiramente à exuberância e ao luxo, e que se alegram de ter muitos filhos para lutar bravamente contra os Cristãos.
“Para o califa, o nosso Papa, e para nosso Rei, o Senhor Sultão, o mais valente dos cavaleiros, e para todos os mais ilustres cavaleiros de Chorosan; saudações e homenagem sem medida.
“Deixe-mo-los alegrarem-se e deleitarem-se em alegre concórdia e satisfazerem seus apetites; deixe-mo-los comandarem e darem a conhecer a toda aquela região que as pessoas se entregam inteiramente à exuberância e ao luxo, e que se alegram de ter muitos filhos para lutar bravamente contra os Cristãos.
“Recebam eles, com prazer, estas
três armas que recentemente tomamos de um esquadrão de Francos, e que saibam
agora que armas os exércitos Francos usam contra nós; arcos muito finos e
perfeitos que usarão contra as nossas armas, que são duas, três vezes, ou até
mesmo quatro vezes soldadas ou purificadas como a mais pura prata ou ouro.
“Além disso, saibam todos, também, que impedi os Francos de entrarem em Antioquia, e que mantenho a cidadela à minha inteira disposição, enquanto eles (os inimigos) estão embaixo na cidade.
“Da mesma forma, agora tenho a todos em minhas mãos. Fá-los-ei sofrer pena de morte, ou serem levados até Chorosan no mais duro cativeiro, porque com suas armas estão nos ameaçando para retirar-nos e expulsar-nos de todo o nosso território, ou lançar-nos fora além da Índia superior, como expulsaram todos os nossos irmãos da Romenia ou da Síria.
“Agora eu te juro por Maomé e todos os nomes dos deuses, que eu não voltarei diante de Vós até que eu tenha adquirido, com a minha forte mão direita, a cidade régia de Antioquia, toda a Síria, Romenia e Bulgária, até a Apúlia à honra dos deuses, e à Vossa glória, e à de todos aqueles que são raça dos turcos”.
“Além disso, saibam todos, também, que impedi os Francos de entrarem em Antioquia, e que mantenho a cidadela à minha inteira disposição, enquanto eles (os inimigos) estão embaixo na cidade.
“Da mesma forma, agora tenho a todos em minhas mãos. Fá-los-ei sofrer pena de morte, ou serem levados até Chorosan no mais duro cativeiro, porque com suas armas estão nos ameaçando para retirar-nos e expulsar-nos de todo o nosso território, ou lançar-nos fora além da Índia superior, como expulsaram todos os nossos irmãos da Romenia ou da Síria.
“Agora eu te juro por Maomé e todos os nomes dos deuses, que eu não voltarei diante de Vós até que eu tenha adquirido, com a minha forte mão direita, a cidade régia de Antioquia, toda a Síria, Romenia e Bulgária, até a Apúlia à honra dos deuses, e à Vossa glória, e à de todos aqueles que são raça dos turcos”.
E assim concluiu ele suas
palavras.
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