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Gesta Francorum IX - A Batalha de Doriléia

Cristo marcha na frente dos Cruzados

No terceiro dia, os Turcos fizeram um assalto violento a Boemundo e seus companheiros. Os Turcos começaram a gritar, a uivar e chorar em voz alta incessantemente, fazendo um som infernal, não sei como, na sua própria língua. 

Quando o sábio Boemundo viu de longe os inúmeros Turcos gritando e chorando num som diabólico, imediatamente ordenou que todos os cavaleiros desmontassem e armassem prontamente as tendas.  Antes das tendas serem levantadas, falou a todos os soldados: 

‒ “Meus senhores e os mais fortes dos soldados de Cristo! Uma difícil batalha está se formando em torno de nós. Que todos avancem contra eles, corajosamente, e que a infantaria monte as tendas com cuidado e rapidez”.

Quando tudo isso tinha se passado, os turcos já haviam nos cercado por todos os lados. Eles nos atacaram, cortando, jogando e atirando flechas por toda parte, de uma forma estranha.  Embora mal pudéssemos contê-los, ou até mesmo suportar o peso de um tal exército, no entanto, todos nós conseguimos manter nossas fileiras.  Nossas mulheres foram uma grande bênção para nós naquele dia, pois carregaram água para nossos combatentes e confortaram os lutadores e defensores. 

O sábio Boemundo imediatamente ordenou que os outros, ou seja, o Conde de Saint Gilles, o Duque Godofredo, Hugo de França, o bispo de Le Puy, e todo o resto dos soldados de Cristo se apressassem e marchassem rapidamente para o campo de batalha.  Ele disse: “Se eles querem lutar hoje, quem venham com força total”.  O forte e corajoso Duque Godofredo e Hugo de França adiantaram-se com seus exércitos. 

O Bispo de Le Puy seguiu com suas tropas, e o Conde de Saint Gilles veio em seguida, com um grande exército.  Nosso povo estava muito curioso [para saber] de onde uma tal multidão de Turcos, Árabes, Sarracenos, e outros cujos nomes ignoro, tinha vindo. 

Com efeito, esta raça excomungada enchia todas as montanhas, montes, vales e planícies por todos os lados, tanto dentro como fora do campo de batalha. Tivemos uma conversa secreta e, depois de louvarmos a Deus e de termos nos aconselhado, dissemos: “Unamo-nos todos na Fé de Cristo e na vitória da Santa Cruz, pois, se Deus quiser, hoje todos nos tornaremos ricos”.  Nossas forças puseram-se em uma contínua linha de batalha. 

Batalha de Doriléia, a primeira grande batalha das Cruzadas

À esquerda havia Boemundo, Roberto o Normando, o prudente Tancredo, Roberto de Ansa, e Ricardo do Principado.  O Bispo de Le Puy aproximou-se por uma outra montanha e, assim os turcos infiéis ficaram cercados por todos os lados. [nota: o Beato bispo Ademar de Le Puy tinha, em outras palavras, conduzido um grupo de cavaleiros franceses do sul através das montanhas, ao redor e atrás das linhas turcas. O aparecimento súbito no campo, do Bispo e seus cavaleiros, que vieram por trás dos flancos turcos, pôs os Turcos em pânico e garantiu a vitória aos cruzados.] 

Raimundo de Saint Gilles também lutou no lado esquerdo. À direita estavam o Duque Godofredo, o Conde de Flandres (um valentíssimo cavaleiro) e Hugo de França, juntamente com muitos outros cujos nomes eu desconheço.  Logo que nossos cavaleiros chegaram, os Turcos, Árabes, Sarracenos, Angulanos, e todos as tribos bárbaras rapidamente fugiram pelos atalhos das montanhas e planícies. Os Turcos, Persas, Paulicianos, Sarracenos, Angulanos e outros pagãos eram 360.000, além dos Árabes, cujos números só Deus conhece. 

Com velocidade extraordinária, fugiram para suas tendas, mas não puderam permanecer lá por muito tempo. Mais uma vez fugiram e nós os seguimos, matando-os um dia inteiro. Levamos muitos despojos: ouro, prata, cavalos, burros, camelos, carneiros, gado, e muitas outras coisas que não conhecemos. 

Se o Senhor não estivesse conosco na batalha e não tivesse nos enviado um outro exército repentinamente, nenhum dos nossos homens teria escapado, pois a batalha durou da terceira até a hora nona. 

Mas Deus Todo Poderoso é misericordioso e bondoso. Ele não permitiu que Suas tropas perecessem, nem quis Ele entregá-las nas mãos do inimigo; antes, Ele prontamente enviou-nos ajuda.  Dois dos nossos honrados cavaleiros foram mortos, a saber, Godofredo de Monte Scaglioso e Guilherme, o filho do Marquês e irmão de Tancredo. Alguns outros cavaleiros e soldados de infantaria, cujos nomes não sei, também foram mortos. 
O Beato Adhemar, bispo de Puy (de mitra-elmo) decidiu a batalha em favor dos Cruzados

Quem será suficientemente sábio e instruído para se atrever a descrever a prudência, coragem e bravura dos Turcos? 

Eles acreditavam que poderiam aterrorizar a raça dos Francos, ameaçando-os com suas flechas, como tinham aterrorizado os Árabes, Sarracenos, Armênios, Sírios e Gregos. Mas, queira Deus, eles nunca serão tão poderosos como nossos homens. 

Na verdade, os turcos dizem que são aparentados aos Francos e que nenhum homem deveria, por natureza, ser cavaleiro, a não ser os Francos e eles próprios [os turcos]. 

Falo a verdade, que ninguém pode negar. Que se tivessem sido sempre firmes na Fé de Cristo e do Cristianismo, se tivessem querido confessar a Deus Trino, e se tivessem honestamente acreditado, de boa fé, que o Filho de Deus nasceu da Virgem, que Ele sofreu e ressuscitou dos mortos e subiu ao Céu na presença dos Seus discípulos, que Ele enviou o conforto perfeito do Espírito Santo, e que Ele reina no Céu e na terra; se eles tivessem acreditado em tudo isso, teria sido impossível encontrar um povo mais poderoso, mais corajoso, ou mais hábil na arte da guerra. 

Pela graça de Deus, no entanto, nós os derrotamos. A batalha ocorreu no dia primeiro de Julho.


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