Existe uma cidade
perdida, vestígios de uma civilização avançada já extinta, escondida pela
floresta no Brasil?
Esse é o mote de um dos
mais estranhos documentos históricos do nosso país. Curiosamente, o manuscrito
n° 512, como é conhecido, é pouco divulgado e estudado.
Ele se encontra na
Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (seção manuscritos, obras raras).
Trata-se de um documento do século XVIII, no qual se narra o descobrimento de
uma maravilhosa cidade perdida de casas de pedra e amplas ruas, além de
numerosas inscrições gravadas nas pedras em uma língua completamente
desconhecida.
Essa descoberta teria
se dado por acaso, quando uma Bandeira (um grupo de bandeirantes) desbravava o
interior do Brasil. O manuscrito dá ciência ao Vice-Rei do Brasil sobre a
descoberta, e tudo indica que ele foi escrito por quem de fato esteve no lugar
misterioso.
Seu título é:
“Relação
histórica de uma occulta e grande povoação antiquissima sem moradores, que se descobriu
no anno de 1753”.
O documento teria sido
escrito por uma pessoa culta, o que leva a especulação que o autor, de acordo
com a análise das bandeiras da época, poderia ser o mestre-de-campo João da
Silva Guimarães. Há também a possibilidade de que seja uma obra de Antônio
Lourenço da Costa ou pelo religioso J. Barbosa. A carta, não é assinada, é
dirigida ao Vice-rei do Brasil Luís Peregrino de Carvalho Menezes, o que
permite datar com boa precisão sua idade.
A viagem de exploração
ocorreu em 1753, quando um grupo de homens guiados por Francisco Raposo* e João
Silva Guimarães, adentrou nas selvas do atual estado da Bahia. É importante
lembrar que neste tempo, o Brasil era bem hostil à investidas do “homem branco”
de modo que o atual estado da Bahia estava dominado por tribos perigosas como
os Aimorés e Pataxós, nativos belicosos cujas terras foram conquistadas só
muitos anos depois à custa de muito sangue e violência. Aventurar-se no
interior prometia riquezas, mas igualmente, era muito perigoso. Não apenas
pelos seres humanos locais, mas pelas doenças, insetos, criaturas peçonhentas e
animais selvagens, como a onça, que pode estourar a cabeça de um ser humano
numa única mordida. Algo que nem o Leão africano consegue.
Ao que parece,
Francisco Raposo buscava as fantasmagóricas minas de ouro e de prata de
Muribeca, cuja localização física era desconhecida. Muribeca poderia ser uma
lenda, mas naquele tempo a linha entre lendas e realidade era bastante tênue, e
a busca por minas desconhecidas e cidades perdidas, como o Eldorado, ainda se
estendeu pelos dois séculos seguintes.
A lenda das minas de
Muribeca remonta ao século XVI, quando o português Diego Álvares foi o único
sobrevivente de um desastroso naufrágio próximo à costa do Brasil. Ele teria
sido salvo por alguns indígenas tupis-guaranis e, nos meses seguintes, aprendeu
o idioma dos nativos e chegou mesmo a se casar com uma jovem, chamada
Paraguaçu.
O tal do Álvares teve
uma penca de filhos com a Paraguaçu e um deles, que viveu um tempo com seus
irmãos meio-índios foi batizado de Muribeca. Quando já era grande, Muribeca fez
uma viagem ao interior do continente, guiado por nativos tapuias. Em algum lugar
onde ninguém sabe onde, o tal do Muribeca encontrou uma riquíssima mina de
ouro, prata, diamantes, esmeraldas e até rubis. Com o tempo, organizou a
exploração da mina e se tornou riquíssimo, vendendo pepitas de ouro e pedras
preciosas no porto da Bahia (Salvador). O filho de Muribeca, cujo nome era
Robério Dias, era muito ambicioso, cresceu em meio a fortuna de Muribeca, mas
tinha um recalque de não ser considerado um “branco”. Assim, durante uma viagem
a Portugal, ele pediu ao rei de Portugal o título de marquês.
O rei prometeu
conceder-lhe o almejado título, mas somente se Robério Dias revelasse o segredo
de seu pai e cedesse TODAS as minas à Coroa portuguesa.
Robério Dias, então,
aceitou a proposta do Rei e o que ficou combinado entre eles foi que quando a
expedição portuguesa finalmente chegasse à Bahia, ele seria aclamado Marquês.
Mas pouco antes de empreender a viagem em direção às minas, o filho de Muribeca
que também não era tão burro, convenceu o oficial do rei a deixá-lo dar uma
olhada na carta que continha o seu futuro título de marquês. Ao abrir a carta
real…
Ali não estava o
ambicionado título de Marquês, mas sim um miserável título de pouca
importância, (capitão de missão militar). Enganado pelo Rei, ele negou-se então
a indicar o caminho em direção às minas.
Resultado: Foi preso durante anos e
anos. Quando morreu, em 1622,
levou consigo para o além o segredo de onde estavam as minas de seu pai.
Desde então, muitos
partiram em busca da fabulosa mina de ouro, mas se aventurar sem saber
exatamente o caminho era um suicídio. E dito e feito! Quase todos morreram
tentando e os que voltaram, regressaram sem haver alcançado o objetivo de sua
viagem.
O documento mais
importante sobre as minas de Muribeca apareceu em 1839, no Tomo I do periódico
do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Tratava-se do relato da viagem
do aventureiro Francisco Raposo, efetuada em 1753:
Francisco Raposo partiu
ao mando de dezoito colonos e, depois de muitíssimas aventuras, mais além de
uma enorme zona lodosa, deveu atravessar escabrosas montanhas. Apenas lograram
passar a outra parte viram uns claros e, de longe, a selva virgem. Foram
enviados uns quantos nativos para reconhecimento e, quando regressaram,
disseram que haviam encontrado as ruínas de uma cidade perdida.
No documento, está a
história em que os aventureiros exploraram a cidade perdida no dia seguinte.
Entraram maravilhados a uma grande cidade de pedra com muros ciclópeos
parecidos aos de Sacsayhuamán. Na parte central da enigmática cidade havia uma
praça com um monolito negro muito alto no centro, em cuja cúspide estava a
estátua de um homem que indicava o norte. Aqui está outra passagem da antiga
descrição:
Exploramos a zona e nos
demos conta de que estávamos entrando em uma cidade antiga, desabitada. Caminhávamos
entre as ruínas da cidade e observávamos emocionados essas casas destruídas
pensando que em um passado longínquo houve ali um estado fervente de
atividades. Na entrada havia três arcos. O central mais alto que os dois
laterais e tinha alguns simbolos desconhecidos gravados na pedra. Logo nos
adentramos nas ruínas da cidade, mas não encontramos nenhum sinal de presença
humana recente. Tudo estava abandonado havia séculos ou quiçá milênios. No
centro da cidadela havia uma praça com a estátua de um homem que indicava o
norte. A um lado da praça havia um grande edifício em ruínas. Pelo aspecto
exterior, parecia ser um grande templo destruído por um devastador terremoto.
Em frente à praça principal fluía um grande rio, enquanto que do outro lado do
curso de água havia campos com grandes quantidades de animais: pássaros e
corços, aos quais estranhamente nossa presença não assustava. Navegamos pelo
rio durante três dias e encontramos várias pedras onde estavam incisos
estranhos signos, parecidos aos do arco da entrada da cidade. Encontrávamo-nos
na zona das minas, já que era fácil ver grandes pepitas de ouro nas margens do
rio.
Tal descrição deixou
todos chocados. Quem não se choca com um manuscrito que diz que as pepitas de
ouro davam para ver aflorando nas margens do rio? A partir do
descobrimento do manuscrito, em 1839, vários aventureiros se lançaram à
floresta, partindo sertão adentro em busca da “cidade perdida”.
Um deles foi Teodoro
Sampaio, quem em 1878 afirmou haver encontrado na zona do Rio São Francisco,
várias cavernas com petróglifos e estranhas incisões, mas não a mítica cidade.
Em 1913, o tenente
coronel inglês O’ Sullivan Beare declarou haver chegado às minas de Muribeca,
situadas, segundo ele, na margem direita do Rio São Francisco, a uns doze dias
a cavalo de Salvador da Bahia. Disse também que havia visto de longe as ruínas
da cidade perdida, quase completamente ocultas na espessa selva, mas admitiu
que não pôde aproximar-se porque seus víveres haviam se acabado e ademais,
estava por começar uma tempestade.
Segundo afirmava o
falecido pesquisador inglês Howard Barraclough (‘Barry’) Fell, foi precisamente
O’Sullivan Beare quem introduziu ao mundo o famoso ídolo de basalto, encontrado
por ele nas proximidades das ruínas da cidade perdida da Bahia em 1913.
Posteriormente, o ídolo teria chegado às mãos do escritor Sir Henry Rider
Haggard, que apresentou a estatueta ao seu amigo Percy Fawcett.
O coronel inglês Percy
Fawcett, quem teve a oportunidade de conhecer Beare no Brasil, ficou fascinado
com seu testemunho e com a análise do documento 512.
Fawcett era um
aventureiro nato. Corajoso ao ponto de ser considerado por índios Brasileiros
um maluco, Fawcett ficou obcecado por achar a cidade perdida de Muribeca, e,
portanto, decidiu organizar uma expedição em 1921.
Na realidade, Fawcett
estava interessado principalmente na zona do Mato Grosso por vários motivos.
Primeiro que tudo, em suas viagens anteriores havia tido ocasião de escutar
várias lendas indígenas que descreviam cavernas, antigas cidades, fortalezas e
ruas pavimentadas. Fawcett estudou o ídolo de basalto e começou a acreditar que
ele poderia ser uma peça vinda de Atlântida.
A cuidadosa análise do
manuscrito 512 e da lenda de Muribeca o fascinou tanto que, em julho de 1921,
organizou uma expedição a algumas zonas remotas da Bahia, com o fim de
encontrar a cidade perdida. Explorou a zona do ocidente de Lençóis, na remota
Serra de Sincorá e Orobó, onde supunha que se encontrava a mítica Muribeca. Na
região chamada Lapinha, Fawcett encontrou muitos petróglifos parecidos aos
descritos no Manuscrito 512, mas não conseguiu achar a desejada cidade perdida.
Fawcett chegpu a encontrar uma suposta cidade
perdida em uma de suas aventuras. Segundo seus diários, Fawcett estava atrás de
uma outra cidade chamada “Z”. E foi perseguindo “Z” que ele morreu.
Alguns anos depois, em
sua famosa expedição de 1925, Fawcett encontrou seu fim. Decidiu partir de
Cuiabá, no Mato Grosso, com a ideia de explorar as terras do Xingu, e depois,
em direção a leste, atravessar a Serra do Roncador, chegar ao Rio Araguaia, até
chegar ao Rio Tocantins, para explorar em seguida a Serra Geral e encerrar a
expedição às margens do Rio São Francisco, na zona indicada originalmente como
o lugar onde surgia a cidade perdida de Muribeca, a que se descreve no
Manuscrito 512. Fawcett levou o ídolo de basalto consigo na sua derradeira
expedição de 1925. Segundo afirmava o falecido pesquisador inglês Howard
Barraclough (‘Barry’) Fell , o ídolo supostamente teria sido visto pela última
vez à venda no mercado de Cuiabá, na
década de 1960. Hoje ninguém sabe onde ele está. O resultado da expedição de
Percy Fawcett, em companhia seu filho Jack e seu amigo Raleigh Rimmel, é bem
conhecido: os três aventureiros desapareceram provavelmente perto do Rio
Culuene (afluente do Xingu), enquanto se dirigiam à misteriosa Serra do
Roncador.
De volta ao documento
Manuscrito 512, em um contexto de busca da identidade nacional, e valoração dos
atributos brasileiros, o documento ganhou um destaque e um enfoque cada vez
maiores ao longo dos anos, tanto por parte de aventureiros, como Fawcett,
quanto de intelectuais, religiosos, e até do próprio imperador Dom Pedro II. O
tão investigado relato que faz o documento, e que foi motivo de sua relevância ao
longo da história defendido arduamente por muitos, contestado calorosamente por
outros, e obsessivamente buscado por alguns.
A moeda misteriosa
O único objeto
mencionado pela expedição dos bandeirantes, que foi encontrado ao acaso, e
descrito cuidadosamente na carta consiste em uma grande moeda confeccionada em
ouro. Tal objeto, de existência e destino hoje incógnitos, trazia emblemas em
sua superfície: cravados na peça havia em uma face o desenho de um rapaz
ajoelhado, e no reverso combinados permaneciam as imagens de um arco, uma
coroa, e uma flecha.
O relato da expedição,
em sua parte mais conhecida, conta que houve quem avistasse uma grande montanha
brilhante, em consequência da presença de cristais e que aquilo atraiu a
atenção do grupo, bem como seu pasmo e admiração. Tal montanha frustrou o grupo
ao tentar escalá-la, e transpô-la foi possível apenas por acaso, graças a um
“acidente de percurso”.
O tal acidente foi o
fato de um negro que acompanhava a comitiva ter caçado um animal, que em fuga,
seguiu num caminho pavimentado com pedras que passava por dentro da montanha,
rumo a um destino ignorado. Os homens da bandeira seguiram por este caminho, e
após atingir o topo da montanha de cristal os bandeirantes avistaram uma grande
cidade, que a princípio confundiram com alguma já existente da costa brasileira
e devidamente colonizada e civilizada.
No entanto, ao inspecioná-la verificaram uma lista de estranhezas entre
ela e o estilo local, (fora o fato de estar em alguns trechos completamente
destruída) seus prédios, muitos deles com mais de um andar, jaziam abandonados
e sem qualquer vestígio de presença humana, como móveis ou outros artefatos.
A entrada da cidade era
possível apenas por meio de um caminho, macadamizado, e ornado na entrada com
três arcos, sendo o principal e maior ao centro, e dois menores aos lados. O
autor do manuscrito 512 observa que todos traziam inscrições em uma letra
indecifrável no alto, que lhes foi impossível ler, dada a altura dos arcos, e
menos ainda reconhecer.
O aspecto da cidade
narrada no documento 512 mescla caracteres semelhantes aos de civilizações
antigas, porém traz ainda outros elementos ainda não identificados ou sem
associação; o cronista observa que todas as casas do local semelhavam a apenas
uma por vezes ligadas entre si em uma construção simétrica e uníssona.
Há descrição de
diversos ambientes observados pelos bandeirantes, admirados e confusos com seu
achado, todos relatados com associações do narrador, tais como: a praça na qual
se erguia uma coluna negra e sobre ela uma estátua que apontava o norte, o
pórtico da rua que era encimado por uma figura despida da cintura para cima e
trazia na cabeça uma coroa de louros, os edifícios imensos que margeavam a
praça e traziam em relevo figuras de alguma espécie de corvos e cruzes.
Segundo a narrativa
transcrita no documento, próximo a tal praça haveria ainda um rio que foi
seguido pela comitiva e que terminaria em uma cachoeira, que aparentemente
teria alguma função semelhante à de um cemitério, pois estava rodeada de tumbas
com diversas inscrições. Foi neste local
que os homens encontraram a moeda de ouro misteriosa.
Posteriormente, outro
pesquisador declarou ter descoberto a cidade misteriosa, mas tal qual Fawcett
pereceu nos obscuros caminhos da floresta brasileira. Este foi ninguém menos que o engenheiro
francês Apollinaire Frot (conhecido na região como ‘Apolinário’, ou
‘Apolonário’), ele era um buscador incansável de antiguidades, que supostamente
“conhecia todos os cantos da Bahia”. Frot realmente afirmava
que ao leste de SãoFrancisco não existiam cidades perdidas, mas, em
contrapartida, anunciava a descoberta de umas ‘ruínas ciclópicas’ a oeste do
mesmo rio, na misteriosa Serra do Ramalho, direção sudoeste de Bom Jesus da
Lapa, onde ele estava procurando o tesouro de Belchior Dias (o Muribeca) e
quase morreu de sede. Segundo Frot, as tais ruínas na Serra do Ramalho
incluiriam colunatas inteiras e uma estrada pavimentada. Frot é mesmo conhecido
como um incansável buscador de antigos registros rupestres do Brasil. Ele
percorreu o interior de muitos Estados brasileiros, colhendo e decifrando tais
registros, que, segundo ele, o levariam para as antigas minas de ouro,
pertencentes outrora a uma grande civilização perdida do Brasil, que ele
chamava de ‘protoegípcia’. Também acreditava que tais minas de ouro teriam sido
aproveitadas pelos fenícios, que viriam para o Brasil buscando metais preciosos
e deixariam mesmo muitos roteiros em pedra.
Segundo alguns pesquisadores da época, Frot
teve sucesso em achar tais minas, mas também desapareceu na década de 1930 em
algum lugar do interior inexplorado do Brasil, compartilhando assim o mesmo
destino do coronel Fawcett.
Misteriosas inscrições
O misterioso manuscrito
512 contém, lá pelo meio de sua rica descrição da cidade perdida, desenhos dos
símbolos gravados na pedra. E parte, são esses símbolos que atuaram
positivamente para que o manuscrito fosse levado a serio, pois especialistas
encontraram correlações com letras usadas na antiguidade.
A arquitetura descrita
evoca a maneira de construir dos romanos (por exemplo, o triplo arco das ruínas de Lumabesis e Timgad, cidades romanas edificadas na Argélia).
Também o detalhe da
estatua de um homem que com o braço esticado assinalando o Pólo Norte recordando
assim algumas estátuas romanas, como por exemplo, aquela de Octaviano Augusto
que se encontra no Museu do Vaticano em Roma.
Contrariamente os
signos gravados na pedra que foram descritos no manuscrito 512 foram
identificados por alguns estudiosos como “Grego-Tolemaicos”. O investigador que
ofereceu esta interpretação apesar disso não era um linguista, mas um biólogo
marinho: tratava-se de Barry Fell reconhecido escritor americano, que sustentou
nos seus livros a teses do contato entre mundo Europeu/Medio-Oriental e o Novo
Mundo, muito antes de Cristovão Colombo.
Na opinião de outros
investigadores, o alfabeto utilizado nas inscrições do “Manuscrito 512” poderia
ser Púnico, Antigo Fenício ou Aramaico.
Mas se a cidade existe,
cadê?
A pergunta que fica é:
Existiu mesmo a tal cidade misteriosa, ou isso é uma lenda, que acabou gerando
mortes? Esta é uma questão difícil de solucionar. Fawcett deixa claro em seus
documentos ao relatar que conheceu pelo menos uma das cidades perdidas. O
famoso Daniel Robert O´Sullinavn Beare também chegou neste lugar, confirmando
sua existência e trazendo inclusive um estranho e também insólito “souvenir” na
forma do monolito de basalto, contendo uma figura humana com inscrições numa
língua desconhecida assemelhada ao grego, algo incompatível com os índios
Brasileiros que desconheciam a escrita e muito menos construções sofisticadas
de dois andares, com colunas, arcos, e estátuas apontando o norte.
No entanto, temos que
levar em, conta alguns fatores. Os homens que empreendiam as bandeiras eram
quase sempre ignorantes e analfabetos em sua maioria quase absoluta. Não
dominavam cartografia e suas condições precárias não os permitia traçar com
precisão o local de suas descobertas. Dado isso, essa tal cidade poderia não
estar de fato na Bahia, mas sim bem mais a oeste. As hipóteses para a cidade jamais ter sido
localizada envolvem a possibilidade de ter sido destruída por algum desastre
natural, como um terremoto. Essa hipótese é pouco provável, na medida em que o
Brasil está no meio da placa tectônica, e as ações sísmicas de grande
intensidade aqui são pífios.
Mas há outra
possibilidade ainda mais bizarra e intrigante, que não posso deixar de
mencionar: Ela pode ter sido demolida pelo Homem!
Entender isso requer
conhecer a condição da política externa na época da descoberta da cidade pelos
homens da expedição que durou dez anos, e que mais tarde mandaram o manuscrito
ao vice-rei. Na opinião de alguns
investigadores brasileiros, existe a possibilidade de que o governo português
da época, representado pelo Vice-rei que se encontrava no Rio de Janeiro
intentara ocultar ou achado de uma antiga e grande cidade no interior do seu
território por motivo particular: naquela época da Coroa portuguesa, tinha
negociado com a Coroa espanhola os limites do império (Tratado de Madrid de
1750) considerando-se o fato de que as imensas terras do interior do Brasil,
(apesar de pertencerem oficialmente a Espanha, pelo Tratado de Tordesilhas),
ainda não tinham sido colonizadas, pelo mesmo motivo passariam de fato a ser propriedade
de Portugal como “ius possidentis”; uma vez que de fato os ” bandeirantes”
tinham percorrido e fundado pequenas fortalezas no interior a partir do ano
1650.
Porém, lá estavam
indícios de que a cidade perdida não era comum. A estátua com características
romanas, os arcos com letras antigas… Se a noticia de uma grande cidade antiga
de origem pré-greco-romana tivesse sido divulgada, os termos do tratado de
Madrid poderiam ter sido revisados provando a colonização e permanência de um
povo do Mediterrâneo o do Medio-Oriente no Brasil em séculos ou mesmo milênios
antes de Pedro Álvares Cabral e sua esquadra darem as caras barbudas aqui.
Desse modo, a descoberta da cidade poderia derrubar o “ius possidentis”
português. Antes que a descoberta vazasse, a demolição da cidade e ocultação de
todo seu esplendor teria sido decretada em segredo para evitar uma celeuma
europeia pela posse do Brasil.
É uma história
conspiratória, mas bem interessante. O fato real que temos é: Ninguém jamais
achou a tal cidade descrita no misterioso Manuscrito 512, ou se achou, não saiu
vivo dessa experiência. Talvez ela ainda esteja lá, oculta pela selva densa e
úmida. Em algum lugar esquecido entre a Bahia, Tocantins, Goias, Mato Grosso,
ou até os limites da atual Bolívia.
O texto completo do
manuscrito
contiguo aos………………….
Mestre de campo………… sua comitiva, havendo dez annos de que viajava pelos
certões, a vêr se descubria as decantadas minas de Prata do grande descubridor
Moribeca, que por culpa de hum Governador se não fizerão pa-tentes, pois queria
lhe uzurparlhe esta gloria e o teve prezo na Bahia até morrer, e ficarão por
descubrir: Veio esta noticia ao Rio de Janeiro em principio do anno de 1754. Depois
de huma longa, e inoportuna perigrinação, incitados da incaciavel cobiça de
ouro, e quazi perdidos em muitos annos por este vastissimo certão, descubrimos
huma cordilheira de montes tão elevados, que parecia chegavão a Região etheria,
e que servirão de throno ao vento as mesmas estrellas; o luzimento que de Longe
se admirava, principalmente quando o Sol fazia impressão ao Cristal de que era
composta e formando huma vista tão grande e agradavel, que ninguem daquelles
reflexos podia afastar os olhos: entrou a chover antes de entrarmos a registrar
esta christallina maravilha e viamos sobre a pedra escalvada correr as agoas
precipitando-se dos altos rochedos, parecendo-nos como a neve, ferida dos raios
do sol, pelas admiraveis vistas daquelle chris……………….uina se reduziria ………….das
aguas e tranquilidade do tempo nos resolvemos a investigar aquelle admiravel
prodigio da natureza, chegando-nos no pé dos Montes, sem embaraço Algum de
Matos, ou Rios, que nos difficultasse o trânsito, porem, circulando as Montanhas,
não achamos pasio franco para executar-mos a rezolução de accommeter-mos estes
Alpes e Pyrineos Brasílicos, rezultando-nos deste desengano huma inexplicavel
tristeza. Abarracados nós, e com o dezignio de retrocedermos no dia seguinte,
sucedeo correr hum negro, andando à lenha, a hum veado branco, que vio, e
descobrir por este acazo o caminho entre duas serras, que parecião cortadas por
artificio, e não pela Natureza: com o alvoroço desta novidade principiamos a
subir, achando muita pedra solta, e amontoada por onde julgamos ser calçada
desfeita com a continuação do tempo. Gastamos boas tres horas na subida, porém
suave pelos christaes que admiravamos, e no cume do Monte, fizemos alto, do
qual estendendo a vista, vimos em hum Campo razo maiores demonstracoes para a
nossa admiração. Divisamos cousa de legoa, e meia huma Povoação grande,
persuadindo-nos pelo dilatado da figura ser alguma cidade da Corte do Brazil:
descemos logo ao Valle com cautela……….lferia em semelhante cazo, mandando
explorar……….gar a qualidade, e……………..se bem que repararam ………..Fuminés, sendo
este, hum dos signaes evidentes das povoações. Estivemos dois dias esperando
aos exploradores para o fim que muito desejavamos, e só ouviamos cantar gallos
para ajuizar que havia alli povoadores, até que chegarão os nossos desenganados
de que não havia moradores,ficando todos confuzos: Resolveo-se depois hum índio
da nossa commitiva a entrar a todo risco, e com precaução, mas tornando
assombrado, afirmou não achar, nem descobrir rastro de pessoa Alguma: este cazo
nos fez confundir de sorte, que não o acreditamos pelo que viamos de
domecilios, e assim se arranjarão todos os exploradores a ir seguindo os passos
do índio. Vierão, confirmando o referido depoimento de não haver povo, e assim
nos determinamos todos a entrar com armas por esta povoação, em huma madrugada,
sem haver quem nos sahisse ao encontro a impedir os passos, e não achamos outro
caminho senão o unico que tem a grande povoação, cuja entrada he por tres arcos
de grande altura, o do meio he maior, e os dois dos lados são mais pequenos:
sobre o grande, e principal devizamos Letras, que se não poderão copiar pela
grande altura Faz huma rua da largura dos três arcos, com cazas de sobrados de
huma, e outra parte, com as fronteiras de pedra lavrada, e já denegrida.
So……………inscripções, abertas todas …………….ortas são baxas defei…………………….as,
notando que pela regularidade,e semetria em que estão feitas, parece huma só
propriedade de cazas, sendo em realidade muitas, e Algumas com seus terraços
descubertos, e sem telha, porque os tetos são de ladrilho requeimado huns, e de
lajes outros. Corremos com bastante pavor Algumas cazas, e em nenhuma achamos
vestígios de alfaias, nem móveis, que pudéssemos pelo uso, e trato, conhecer a
qualidade dos naturaes: as cazas são todas escuras no interior, e apenas tem
huma escaça luz, e como são abóbodas, ressoavam os ecos dos que falavão, e as
mesmas vozes atemorizavão. Passada, e vista a rua de bom cumprimento, demos em
huma Praça regular, e no meio della huma collumna de pedra preta de grandeza
extraordinária, e sobre ella huma Estatua de homem ordinário, com huma mão na
ilharga esquerda, e o braço direito estendido, mostrando com o dedo index ao
Polo do Norte: em cada canto da dita Praça está huma Agulha a immitação das que
usavão os Romanos, e mais algumas já maltratadas, e partidas, como feridas de
Alguns raios. Pelo lado direito desta Praça esta hum soberbo edifício, como
casa principal de Algum senhor da Terra, faz hum grande sallão na entrada e
ainda com medo não corremos todas as casas, sendo tantas, e as retrat……………………….
zerão formar Algum……………….mara achamos hum…………………….massa de extraordinária
………………………..pessoas lhe custavão a levanta lla. Os morcegos erão tantos, que
investião as caras das gentes, e fazião uma tal bulha, que admirava: sobre o
pórtico principal da rua está huma figura de meio relevo talhada da mesma pedra
e despida da cintura para cima, coroada de louro: reprezenta pessoa de pouca
idade, sem barba, com huma banda atraveçada, e hum fraldelim pela cintura:
debaixo do escudo da tal figura tem alguns characteres já gastos com o tempo,
divizão-se, porém os seguintes:
Da parte esquerda da
dita Praça esta outro edifício totalmente arruinado, e pelos vestígios bem
mostra que foi Templo, porque ainda conserva parte de seu magnífico
frontespicio, e Algumas naves de pedra inteira: ocupa grande territorio, e nas
suas arruinadas paredes, se vem obras de primor com Algumas figuras, e retratos
embutidos na pedra com cruzes de vários feitios, corvos, e outras miudezas que
carecem de largo tempo para admira llas. Segue-se a este edificio huma grande
parte de Povoação toda arruinada e sepultada em grandes, e medonhas aberturas
da terra, sem que em toda esta circunferencia se veja herva, arvore, ou planta
produzida pela natureza, mas sim montões de pedra, humas toscas outras
lavradas, pelo que entendemos ha as fronteiras de ……………….verção, porque ainda
entre……………………da de cadáveres, que………………..e parte desta infeliz……………da, e
desamparada,…..talves por Algum terremoto. Defronte da dita Praça corre hum
caudalozo Rio, arrebatadamente largo, e espaçoso com Algumas margens, que o
fazem muito agradavel a vista, terá de largura onze, até doze braças, sem
voltas concideraveis, limpas as margens de arvoredo, e troncos, que as
inundações costumão trazer: sondamos a sua Altura, e achamos nas partes mais
profundas quinze, até dezesseis braças. Daparte dalém tudo são campos muito
viçosos, e com tanta variedade de flores, que parece entoar a Natureza, mais
cuidadoza por estas partes, fazendo produzir os mais mimozos campos de Flora:
admiramos tambem algumas lagôas todas cheias de arrôs: do qual nos aproveitamos
e também dos innumeraveis bandos de patos que se crião na fertilidade destes
campos, sem nos ser deficil cassa-llos sem chumbo mas sim as mãos. Tres dias
caminhamos Rio abaixo, e topamos huma catadupa de tanto estrondo pela força das
agoas, e rezistencia no lugar, que julgamos não faria maior as boccas do
decantado Nillo: depois deste salto espraia de sorte o Rio que parece o grande
Oceano: He todo cheio de Peninsulas, cubertas de verde relva: com Algumas
arvores disperças, que fazem……..hum tiro com davel. Aqui achamos…………….. a falta
delle de noss…………. ta variedade de caça…………….tros muitos animais criados sem
cassadores que os corrão, e os persigão. Daparte do oriente desta catadupa
achamos varios subcavões, e medonhas covas, fazendo-se experiência de sua
profundidade com muitas cordas; as quais por mais compridas que fossem, nunca
podemos topar com o seu centro. Achamos também Algumas pedras soltas, e na
superfície da terra, cravadas de prata, como tiradas das minas, deixadas no
tempo. Entre estas furnas vimos huma coberta com huma grande lage, e com as
seguintes figuras lavradas na mesma pedra, que insinuão grande mistério ao que
parece.
Sobre o Portico do
Templo vimos outras da forma seguinte dessignadas:
Afastado da Povoação,
tiro de canhão, está hum edificio, como caza de campo, de duzentos e sincoenta
passos de frente; pelo qual se entra por hum grande portico, e se sobe, por
huma escada de pedra de varias côres, dando-se logo em huma grande salla, e
depois desta em quinze cazas pequenas todas com portas para a dita salla, e
cada huma sobre si, e com sua bica de agoa ……………..qual agoa de ajunta…………mão no
pateo externo…………columnatas em cir………………dra quadrados por arteficio, suspensa
com os seguintes caracteres:
Depois destas
admirações entramos pelas margens do Rio a fazer experiencia de descobrir ouro
e sem trabalho achamos boa pinta na superficie da terra, prometendo-nos muita
grandeza, assim de ouro, como de prata: admiramonos ser deixada esta Povoação
dos que a habitavão, não tendo achado a nossa exacta diligencia por estes
certões pessoa Alguma, que nos conte desta deploravel maravilha de quem fosse
esta povoação, mostrando bem nas suas ruínas a figura, de grandeza que teria, e
como seria populosa, e oppulenta nos séculos em que floreceu povoada; estando
hoje habitada de andorinhas, Morcegos, Ratos e Rapozas que cebadas na muita
creação de galinhas, e patos, se fazem maiores que hum cão perdigueiro. Os
Ratos tem as pernas tão curtas, que saltão como pulgas, e não andão, nem correm
como os de povoado. Daqui deste lugar se apartou hum companheiro, o qual com
outros mais, depois de nove dias de boa marcha avistarão a beira dehuma grande
enseada que faz hum Rio a huma canôa com duas pessoas brancas, e de cabellos
pretos, e soltos, vestidos a Europea, e dando hum tiro como signal para
sever…………… para fugirem. Ter…………..felpudos, e bravos,………….ga a elles se
encrespão todos, e investem Hum nosso companheiro chamado João Antonio achou em
as ruinas de huma caza hum dinheiro de ouro, figura esferica, maior que as
nossas moedas de seis mil e quatrocentos: de huma parte com a imagem, ou figura
de hum moço posto de joelhos, e da outra parte hum arco, huma coroa e huma
setta, de cujo genero não duvidarmos se ache muito na dita povoação, ou cidade
dissolada, por que se foi subversão por Algum terremoto, não daria tempo o
repente a por em recato o preciozo, mas he necessario hum braço muito forte, e
poderozo para revolver aquele entulho calçado de tantos annos como mostra.
Estas noticias mando a v.m., deste certão da Bahia, e dos Rios Pará-oaçu, Uná,
assentando não darmos parte a pessoa Alguma, porque julgamos se despovoarão
Villas, e Arraiais; mas eu a V.me. a dou das Minas que temos descuberto,
lembrando do muito que lhe devo Suposto que da nossa Companhia sahio já hum
companheiro com pretexto differente, contudo peço-lhe a V.me. largue essas
penúrias, e venha utilizar-se destas grandezas, usando da industrias de peitar
esse indio, para se fazer perdido, e conduzir a V.me. para estes
thesouros,…Acharão nas entradas………..sobre lages.
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